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"Mamão com açúcar, não!"

Confira a nossa coluna com opiniões sobre os fatos da semana I Produzida pela jornalista Júlia Souza.

Publicado em 11/07/2020 às 06:40
Atualizado em

(Foto: Pixabay)

Ultimamente tenho visto cada vez mais pessoas frustradas com a vida adulta, com a sua realidade. Me pergunto onde começa essa desilusão, afinal o processo de crescimento e amadurecimento é completamente natural.

É claro que a maioria das pessoas não se diverte trabalhando, nem adora pagar boletos ou sente prazer em ser responsável pela vida de um outro, com a vinda dos filhos. Mas ainda assim não creio que seja suficiente motivação para a crescente insatisfação em viver.  

E tratando-se de curtir a vida, cada vez menos pessoas têm essa capacidade. A mazela do século XXI nos atingiu, afetando 4,4% da população mundial e 5,8% da população do Brasil. Não somos mais capazes de apagar a cicatriz da depressão e ansiedade em nosso meio coletivo.

Para além da afetação psicofísica das doenças, temos outros desdobramentos dessa condição que afeta cerca de 322 milhões de pessoas no mundo, as nossas crias e projetos vêm com esse traço já em si, que herdam de nós. É uma porosidade emocional.

A depressão afeta a nossa forma de ver, ser, estar no mundo; viver um processo depressivo é comum, quem nunca passou por um misto de tristeza e desânimo? Acontece… mas o desprezo pela vida, a sensação constante de não pertencimento, análises utilitaristas no viver (“- Qual a minha utilidade aqui?”, “- Eu não sirvo pra nada…”, “Se eu morrer ninguém vai sentir falta.”), entre outros sintomas têm tomado os nossos, especialmente os jovens (cerca de 21% dos homens brasileiros de 14 a 25 anos têm sintomas indicativos de depressão, para as mulheres a proporção passa de 28%, e entre esses 5% já tentaram suicídio).

Ou seja, nossas crianças estão crescendo e caminhando para a vida real sem vontade de vivê-la. Nossos adultos desgostosos caminham lânguidos de casa para o trabalho e de lá para casa, seu lazer está fatalmente condicionado à vícios ou a maus hábitos.

Pessoas com cada vez mais pressa, menos dinheiro e mais preocupações. A vida tem se transformado em algo doído até para aqueles que têm a capacidade de aprender e desaprender aquilo que não os interessa. Até para os desapegados tem sido difícil estar aqui no presente.

A palavra presente traz, talvez, a resposta para a grande pergunta, que se esconde por trás de tamanha dor e descontentamento. Frequentemente observo que as pessoas a minha volta além de infelizes, não estão aqui. As pessoas não se conectam ao aqui e agora, vivem pensando no passado que tiveram e no futuro que almejam.

Sabendo que o piloto automático infalivelmente as conduz, elas se concentram em sonhar, e o sonho não é real… e, ao entrar, mesmo que superficialmente, em um mundo fictício é difícil sim encarar a realidade. Ela é dura, ela dói, ela é crua para todos. Onde as pessoas estão?

Pode ser complexo mas é necessário observar as oportunidades para que elas não passem por nós, e, em alguns casos, por cima. Para mim, pessoalmente, quero mesmo é viver de tudo: do doce ao amargo, da floresta ao deserto, da dor à delícia… Quero me soltar das amarras, que podem nos prender a uma incompreensível síndrome de Peter Pan que acomete o todo.

Cada fase está aí para ser vivida, quando crianças somos crianças, quando adultos somos adultos, somos programados biologicamente para chegar lá e aceitar.

A sociedade é quem nos condiciona a vigorosas insatisfações pessoais, é quem nos faz querer o caminho mais fácil, nos acostumando ao “mamão com açúcar” que nos mata ao visualizar a primeira dificuldade, quando na verdade devemos buscar o caminho que nos dignifica, nos fortalece.

Entender e aceitar a nossa realidade é uma lição difícil, mas necessária. Precisamos tentar ser a mudança que queremos ver no mundo e, assim, transformar nossa existência no queremos que ela seja enquanto vivemos o que ela é. Esse pensamento vale para a realidade de antes, durante e pós pandemia... porque é de resiliência que somos feitos e a vida é desatar nós. Então, que possamos sempre bater no peito a dizer: "mamão com açúcar, não!". 


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[Este texto foi produzido pela jornalista Júlia Souza, não sendo de redação do Portal da Cidade e, deste modo, pode não representar as opiniões da empresa.]

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