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Crônica

Às vitimas da escola de Suzano

Andreia Donadon Leal - Deia Leal | Mestre em Literatura pela UFV

Publicado em 16/03/2019 às 07:27
Atualizado em

A morte do passarinho (Foto: Andreia Donadon Leal)

Ao chegar do cartório de registros, me deparo com uma imagem que me deixou extremamente triste. De luto estou. De luto ficarei... O pássaro que frequentava o quintal da mina casa há 2 anos, faleceu. Que dor! Subi as escadas rapidamente. Peguei o forrinho de crochê que a saudosa confreira Cely Vilhena, me deu de presente; enrolei o corpo do pássaro. Cavei a terra. Abri um buraco raso. Com os olhos marejados rezei ave-maria, pai nosso. Eu e o corpo do passarinho... Premonição: alguma coisa me magoaria profundamente hoje. Pois... Chegou logo depois do enterro, a notícia do massacre de crianças e adolescentes de uma escola da capital paulista. Lacrei a lápide do passarinho, pensando naquelas almas passarinhas. Muito triste. Triste é quem não tem liberdade. Triste é quem dispara bordoadas em quem trabalha e estuda! Quem nada faz não leva pancadas. Árvore que dá fruta é que toma pedradas. Saudade de Drummond. Saudade do meu tempo de escola, quando ia e tinha certeza da volta. Saudade de pai, de minha infância, do meu jeito de criança... Saudade do disco arranhado. Saudade da vitrola, do vinil! Saudade do meu torrão.

Saudade
maldita saudade
repetitiva
sina branda
que ama profundamente
o lado esmaecido da pedra bruta
o tom cinzento do dia
o peito arfante de cansaço de estudantes
o choro inaudível de familiares
a lista de materiais escolares na porta da geladeira
a geleira do frio crônico do luto
a saudade brandindo no peito
a pedra bruta no pulmão d'alma
o estampido de projéteis impiedosos
a saudade do outro
a saudade minha
a saudade nossa
de não ser
de ser 

poeira
vento
nada

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