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LITERATURA

Escritora Andreia Donadon cria a Quinta, forma poética composta de cinco versos

Segundo a escritora: A QUINTA é uma nova proposta poética para ser produzida por todos os públicos.

Publicado em 03/01/2020 às 08:34
Atualizado em

A escritora aldravista/educadora, Andreia Donadon Leal, cria a QUINTA - forma poética composta de cinco versos - Quatro primeiros versos de dois vocábulos/ último univocabular; com rima no segundo e quinto verso.

Segundo a escritora: A QUINTA é uma nova proposta poética para ser produzida por todos os públicos.

A data de criação da QUINTA foi no dia 23 de dezembro de 2019. A poesia foi bem recepcionada por inúmeros internautas; com criação de um GRUPO DE QUINTANISTAS com mais de noventa participantes.

É investimento na ARTE DA PALAVRA no ano de 2020. É a cidade de Mariana, reforçando a Primazia na Arte Literária.

Andreia Donadon Leal é colaboradora do Portal Cidade de Mariana desde 2019. Natural de Itabira, reside em Mariana há 17 anos. Possui graduação em Letras pela UFOP, Especialização em Artes Visuais: CULTURA E CRIAÇÃO, Mestrado em Literatura. Autora de 17 livros. Recebeu inúmeros prêmios nas áreas literária, cultural, social e educacional. É membro efetivo da Academia Marianense de Letras, da Aldrava Letras e Artes, da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, da ALACIB-BRASIL e do Pen Clube do Brasil. Venceu o Prêmio Nacional de Literatura - Cidade de Manaus e o Troféu Rio (UBE-2016 - Personalidade Cultural e Intelectual).


Quinta: buscando liberdade poética

Por: J. B. Donadon-Leal

A poeta Andreia Donadon Leal propôs e publicou em sua rede social, em 23 de dezembro de 2019, uma forma poética, poema autônomo, variante da quintilha, a que denominou de quinta. Fiat lux, dezenas de poetas passaram a produzir quintas e publicá-las com esse nome! Mas o que é quinta?

Embora com pouca frequência, estrofes de cinco versos são encontradas na poesia. A quintilha clássica caracteriza-se pela composição de estrofes de cinco versos metrificados, de redondilhas menores a maiores. Estrofes de cinco versos metrificados com mais de nove sílabas são denominadas de quintetos.

Álvaro de Campos nos apresenta o seu belíssimo poema “O menino da sua mãe”, composto de seis quintilhas hexassilábicas:

No plaino abandonado

Que a morna brisa aquece

De balas traspassado

– Duas, de lado a lado –,

Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.

De braços estendidos,

Alvo, louro, exangue,

Fita com olhar langue

E cego os céus perdidos.

Os jogos de rimas acontecem entre primeiro, terceiro e quarto com a rima A e segundo e quinto com a rima B.

Já Cecília Meireles, no poema “A doce canção”, dedicado a Christina Christie, compõe suas cinco estrofes em quintilhas de redondilhas maiores, com jogos diferenciados de rimas, numa espécie de dança a demonstrar a musicalidade da canção.

Pus-me a cantar minha pena

com uma palavra tão doce,

de maneira tão serena,

que até Deus pensou que fosse

felicidade – e não pena.

Anjos de lira dourada

debruçaram-se da altura.

Não houve, no chão, criatura

de que eu não fosse invejada,

pela minha voz tão pura.

Há de se deixar claro, de início, que há, por certo, poemas autônomos de cinco versos, no entanto a quintilha ou o quinteto são denominações de estrofes componentes de poemas maiores e não de poema autônomo e completo.

O que é novidade? A novidade se dá pela apresentação formal de um acréscimo, de uma modificação ou de uma criação in totum de algo, com sua consequente denominação. É a denominação, o batismo com um nome, que aufere identidade a algo, diferenciando-o do acaso. Mesmo que a criação, seja pelo processo do acréscimo, da modificação ou da criação in totum, o fato de perceber o resultado como algo que se presta à autonomia identitária o credencia ao batismo e à reivindicação de autoria. É isso que aconteceu com a criação da quinta.

A quinta resulta da reflexão aldravista de auferir à palavra o status de unidade básica da poesia. Percebam que a poesia clássica tem como unidade básica a sílaba, da qual resultam os jogos métricos e os jogos de rimas. A primeira experiência poética, de que tenho notícia, de utilização da palavra como unidade poética é a aldravia, em que, não importa o tamanho da palavra, o número de sílabas, cada um dos seus seis versos é composto por uma palavra. Aí, sim, a palavra conquista o status de unidade básica da poesia. Quinta é, portanto, “poema autônomo” (e não apenas estrofe de poema) de cinco versos, sendo que os quatro primeiros são compostos cada um com duas palavras e o quinto verso com uma única palavra, com o segundo verso rimando com o quinto; primeiro, terceiro e quarto versos no estilo verso livre. Isto, e apenas isto!

É trilhando por esse caminho que Andreia Donadon Leal propôs a quinta. Não importa o número de sílabas na composição métrica dos versos. Importa que cada verso tenha o número de palavras determinado na composição poética que, no caso da quinta, é 02 / 02 / 02 / 02 e 01. Essa composição alcança também um outro espírito aldravista – o da liberdade. O exercício da liberdade está na utilização da palavra plena e farta de significação, sem as amarras métricas. Mas, como os conceitos de liberdade ao longo da história da filosofia e do direito sempre esbarrou em sua relatividade, obrigações sempre acompanham, compulsoriamente, o exercício da liberdade. No caso da composição da quinta, a obrigação de usar dois vocábulos nos quatro primeiros versos, e um único vocábulo no quinto verso; além de ter que ter um jogo de rimas: o segundo verso deverá rimar com o quinto e os demais versos no estilo de versos livres, isto é, sem obrigação de métrica e sem jogos de rimas.

Quintas inaugurais de Andreia Donadon Leal

QUINTA1

infância adorada

ternas crianças

sobrinhos faceiros

ativam doces

lembranças!

QUINTA 2

azul celeste

sol aceso

flocos brumados

esmaecem pássaro:

indefeso!

Quintas inaugurais de J. B. Donadon-Leal

Terreno baldio

imponente abriga

matagal, insetos;

imóvel, consciência

intriga.

Solta pipa

Desenha destino

Descobre rumos

Inventa verdades

Menino.

            Como se vê, a quinta é um poema desamarrado; cinco versos, nove palavras, um jogo de rimas e nenhuma outra obrigação. Letras iniciais liberadas, maiúsculas ou minúsculas, ao gosto do poeta. O que se requer, sem piedade, é que seja poesia. Para ser poesia, é preciso saber dizer sem ser óbvio, sem ser apenas informativo, tem que ser figurativo, desviante, provocante.

Que tal criar a sua quinta? Experimente; invente!

** Doutor em Linguística pela USP// Pós- Doutor em Análise do Discurso pela UFMG. Professor Emérito da UFOP. Presidente do Conselho Editorial da Aldrava Letras e Artes.


QUINTAS

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esculpo poemas

sem rima

melodias etéreas

sustentam-me elas

                 acima!

(Francisco Nunes - São Paulo)

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ano novo

sonho suave

futuro ignoto

levanta voo

           ave!

(Marzo Sette Torres - Belo Horizonte-MG)

===

artístico horizonte

divisa sol

nuvens avermelhadas

pinceladas divinas:

                 arrebol

(J.B.Donadon-Leal-Mariana- MG)

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 QUINTA

florem azaleias

turbilhando ideias

renascendo sóis

sangrando arrebóis

: logopeias!

Gabriel Bicalho - Mariana - MG)

(Às Andreias de nossa Andreia Donadon Leal)

===

azul celeste

sol aceso

flocos brumados

esmaecem pássaro:

                 indefeso!

(Andreia Donadon Leal - Mariana - MG)

===

janela aberta

novo alvorecer

trazendo esperanças

tão belo

viver

(Edweine Loureiro - Japão)

===

felicidade passa

é passageira

alegria fica

percorre alma:

             faceira!

(Cyroba Cecy - Curitiba - PR)

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descobrindo caminhar

liberdade andança

cai levanta

aprendiz constante

             criança

(Regina Coeli Nunes - Rio de Janeiro)

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campo florido

luar brilhando

cantam pássaros

relincha cavalo

            troteando

(Madaglor - Porto Alegre - RS)

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deserto n'alma

ausente aragem

rotina utópica

um oásis...

       miragem

(João Gimenez - Brasília - DF)

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sonho desejoso

liberdade onírica

idealizado amor

cenário surreal

            sonhador

Tauã Lima Verdan - Mimoso (ES)

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