Portal da Cidade Mariana

Crônica

Expressemos nosso amor às mães

Confira a crônica de Andreia Donadon Leal - Mestre em Literatura pela UFV

Publicado em 11/05/2020 às 07:30
Atualizado em

Nunca tive dificuldades para produzir textos; sempre há o primeiro dia. Hoje é um desses dias malditos, de nímia infertilidade. Há mais de um mês não coloco os pés nas ruas, não sinto o vento acariciar meu rosto suado de caminhar. Bater pernas, entrar nas lojas, bancos e loterias é herança materna.

Gosto pela música, idem. Por isso, para minha mãe um pot-pourri de suas músicas preferidas: "Que beijinho doce foi ele quem trouxe de longe pra mim...". Esta canção aguça a vontade de cantora de mãe em seu canto-balbucio, no processo lento de recuperação em sua batalha pela vida. "Depois que eu beijei ele/ nunca mais amei ninguém..." Mãe, semente a florescer pelo amor eterno, “de amor sem fim”, aponta a foto de pai, na parede e sussurra – meu marido!

Maio, mês das flores, das noivas, de MÃE pra lá, mãe pra cá. Mãe é tudo isto: soma, divisão, multiplicação, matemática complexa e simples. Somei minhas quarenta e seis primaveras com as oitenta de mãe. A soma das idades é igual a goles generosos nas passagens de sóis, chuvas, invernos e verões; diários de perdas e ganhos de marcas e cicatrizes em pontos claros e obscuros do amor.

"... O meu coração me faz compreender que a vida é tão pequena para tanto amor." Meu amor exorbitante se alimenta do seu olhar aceso, no aperto da mão esquerda, nos sussurros de sua voz e no desenho breve do seu sorriso. Meu amor filial se engrandece nas viradas dos dias e das noites; amor de outras vidas, imortalizado pelo ciclo cíclico.

" Foi até nos momentos de dor..." Especialmente nos momentos de dor, meu coração espalha ramas de proteção, sobre cada canto do seu corpo. Em quilômetros de idas e voltas pela estrada de rejeitos e quaresmeiras, em trança-trança e ladainhas musicais.

"Índia, sangue tupi/ tens o cheiro da flor..." Meu ser traz amor sublime de mãe para mãe, sem fruto físico do meu ventre. É que esse amor invade todos os pontos e parafusos de minha razão. Amor irretocável de mãe tem cheiro de leite fresco, café passado em bule, broa de fubá e pudim de pão dormido.

"...Estava vestida de noiva, sorrindo e querendo chorar..." Ladeada na foto do porta-retrato por mãe e pai, vestida de branco, o flash capturou o momento exato do nosso sorriso de lágrimas, pulso de emoções e recordações.

Em cada degrau em ardósia da escada, meus pés reverberam passos da infância, adolescência e maturidade. Em cada canto do muro vermelho, nosso gosto similar por cores vibrantes e quentes. Nas portas de vidro, nas pedras da parede do quarto, nos adesivos coloridos dos espelhos das escadas, nas roupas e nos desejos de ir além, no passo da loucura pelo amor, nossa identidade se mistura.

Esta sequência musical marcou a vida de mãe em seus turnos de trabalho no lar. Hoje, vendo sua vontade de cantar, em seus momentos de musicoterapia, “me faz compreender que a vida é tão pequena para tanto amor.”

Em tempo: “de todas as maneiras que há de amar”, experimentemos neste segundo domingo de maio em tempos de combate ao novo corona vírus, nossa mais perfeita maneira de amar com segurança – expressemos nosso amor às mães, protegidos, para protegê-las. No meu caso, este pot-pourri equivale a um buquê. 


Receba as notícias através do grupo oficial do Portal da Cidade Mariana no seu WhatsApp. Não se preocupe, somente nosso número conseguirá fazer publicações, evitando assim conteúdos impróprios e inadequados. 📲

Participe: CLIQUE AQUI 👈

Faça parte também das nossas redes sociais: Facebook e Instagram.

Fonte:

Deixe seu comentário