Muita notícia no limiar de 2019. Mês de fevereiro, mês de azar ou agouro? Mas o ditado não é agosto, mês de desgosto? Se valer a regra, como estaremos nesse mês agourento? Em péssimas condições... Mês de fevereiro, grandes tragédias prenunciam o fim do mundo? A besta está solta, atormentando vida de centenas de pessoas. Ligo o celular. Centenas de mensagens com pessoas gritando. Não compreendo o motivo, de início, apesar de morar na região em que aconteceu tragédia de mesmo gênero que a de Brumadinho. Em 2015 recebi imagens similares, de gritos de funcionários correndo da lama, que se espalhava em velocidade colossal. Fake news? Pensei que fosse. Liguei a televisão e as mesmas imagens passavam na tela. Jornalistas de todos os cantos surgiram na cidade. Câmeras, microfones e todos os aparatos para gravarem o ‘furo’ do momento. Depois de tantas idas e vindas, reportagens, processos, manifestações, protestos, pensei inocentemente: empresas com barragens vão tomar o devido cuidado. Haverá sirene avisando a população se algum perigo estiver por vir. O povo teria tempo de se salvar. Funcionários cairiam fora no mesmo tempo, ao soar estridentemente, a sirene da ‘salvação’. Ledo engano. Leda inocência. Pouco mais de três anos depois, nova catastrófe de dimensões extratosféricas. Mais de trezentos mortos. Corpos desaparecidos, corpos despedaçados, máquinas engolidas, pensão destroçada. Bombeiros em ação vinte e quatro horas por dia. Bombeiros virando heróis. Choro emocionado em suas expressõs de cansaço e estafa. Amor ao próximo, sem reservar energias, vivendo além dos limites. Dignos ao Nobel da Paz. Dignos de altas insígnias. Dignos de louvores mais enloquentes do mundo. Dignos de aplausos. Dignos de serem nomeados de dragões do heroismo nacional. E 2019 continuaria a dar voltas quadradas no destino de dez adolescentes. Ninho do urubu engolido por incêndio. As cores do rubro negro foram esmaecidas, descoloridas... Artur, Vinicius, Athila, Bernardo, Christian, Gedson, Jorge, Pablo, Rykelmo, Samuel e Vitor não farão mais aniversário. Não correrão pelos gramados com torcedores gritando seus nomes, ovacionando dribladas, cabeceadas e gools.... Os meninos não receberão música especial nos programas televisivos. Amanhã será outro dia. Um dia após o outro. As famílias das vítimas jamais esquecerão a tragédia. O povo se solidarializa. Somos coração, emoção gigantesca que dividimos no peito a dor do outro. Que traz no peito, que pulsa dia após dia, até os batimentos finais, o sentimento de compaixão e benevolência com tragédias. E fevereiro continuou a trilhar seus dias, com rapidez e mais notícias ruins. Temporal na cidade maravilhosa, tirando mais pessoas da convivência familiar. Temporal arrastando vidas. Fevereiro nem deu seus últimos suspiros, não findou seus dias; continuou rodopiando surrupiando mais vidas. Explosão. Anel rodoviário em chamas. Helicóptero caindo, caindo, caindo sobre um caminhão. Fogo. Curiosos circulando a área com celulares. Idiotas filmando o acidente. Idiotas sensacionalistas. Idiotas que não largam suas câmeras. Idiotas urubuzando sofrimento alheio. Que grotesco é querer fazer furo de reportagem para redes sociais! Pobres homens insensíveis. A crueldade está na corrente sanguínea e se espalha para o coração. Emoção? Vocábulo e sentimento desconhecidos para quem tem olhos e suas malditas telas de celular voltadas, para divulgar acidentes em curso? No entanto, pessoas boas e sensíveis têm um bocado espalhadas por aí. Despachadas, encorajadas pelo instinto de salvar o semelhante, fazem o diabo, para socorrer necessitados. Não importou, para a mulher que salvou o motorista do caminhão, tentando abrir a porta do veículo com todo seu vigor e força. Os idiotas gravavam a ação como se aquilo fosse normal. Idiotas com seus celulares comentavam o acidente, com as câmeras focadas, enquanto a mulher quebrava o vidro do veículo acidentado. Idiotas, infelizes e acovardados filmavam sem dó e piedade. Idiotas, embrutecidos pelos hormônios masculinos. Idiotas, mal amados. Idiotas mal comunados com o sensacionalismo. Idiotas reencaminhando para Deus e o povo, o momento exato do acidente. Idiotas viciados, robotizados, deslumbrados pela máquina. Idiotas despidos do sentimento de patriotismo. Idiotas vidrados em seus celulares, enquanto uma heroína tenta, com todas suas forças salvar o motorista. Heroína ardorosa pelas coisas e pessoas. Heroína que ama seu país, ama seu semelhante... Heroína com sentimento e pertencimento ao amor... Minha solidariedade às famílias de todas as vítimas quitadas do convívio terrestre no caminhar dos dias de fevereiro. Mês de agouro e de infelizes presságios.
Crônica
Fé-vereiro!
Andreia Donadon Leal - Mestre em Literatura pela UFV
Publicado em 15/02/2019 às 07:19
Fonte: Jornal Aldrava
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