Livros só mudam pessoas
A média brasileira de leitura, segundo pesquisas divulgadas, é
ler de dois a três livros por ano. É vezo humano consolar-se facilmente ou
tomar como base índice tão pífio. É mórbido, mas é mais cômodo e fácil,
consolar-se da própria preguiça ou miséria, quando reconhecemos (erroneamente)
que há pelo mundo afora, homens mais preguiçosos, mais incultos ou mais
miseráveis do que nós, porque leem menos. Certo filósofo grego chegou a dizer
isso, procurando consolar-se de seus próprios defeitos, de sua perversidade e
de sua preguiça, quando reconhecia, que há no mundo, homens muito mais
perversos ou mais preguiçosos do que ele.
A assertiva acima está longe de ser nobre
e exemplar. O desejo de melhorar demonstra luta, esforço contínuo, trabalho,
foco, vontade de crescer, além de uma boa dose de energia moral. Seria
enriquecedor se nos pautássemos sempre no inverso: que há homens, incrivelmente
mais cultos do que nós, que há pessoas que leem mais, porque a leitura abre
caminhos, portas, mundos, e nos tira da escuridão e do obscurantismo
intelectual e artístico. Há homens e mulheres, incrivelmente mais informados,
mais esforçados; menos miseráveis e menos embrutecidos intelectualmente do que
nós.
Nivelar-se na média nacional é
contentamento de muitos, para não dizer comodidade e preguiça. Muitos jovens
e/ou adultos falam abertamente que leem um ou dois livros por ano. Alguns
porque o colégio exigiu, outros porque está fazendo frio ou chovendo, ou não
têm nada mais interessante para fazer. O hábito da leitura ocupa no Brasil, um
baixo índice, apesar de inúmeros programas, projetos e iniciativas
governamentais e da sociedade civil, que trabalham incansavelmente, para
promover a leitura e acesso aos livros.
Ler deveria ser vício, paixão
avassaladora, prazer dos prazeres, pois é o alimento mais eficiente e duradouro
para a mente, para o enriquecimento intelectual e para a vida. Ler salva vidas
do empobrecimento de palavras e de expressões, da miséria de ideias, de
opiniões e do embrutecimento intelectual. Ler não só salva vidas, mas também é
um dos maiores prazeres da introspecção. Auxilia nas análises e nas reflexões;
ajuda-nos a opinar e a defender nossos direitos com propriedade e embasamento.
Para Harold Bloom, “ler é um dos grandes
prazeres da solidão. O mais benéfico dos prazeres, ao menos segundo sua
experiência. Ler nos conduz à alteridade, seja à nossa própria ou à de nossos
amigos, presentes ou futuros. Literatura de ficção é alteridade e, portanto,
alivia a solidão. Lemos não apenas porque, na vida real, jamais conheceremos
tantas pessoas como através da leitura, mas também, porque amizades são
frágeis, propensas a diminuir em número, a desaparecer, a sucumbir em
decorrência da distância, do tempo, das divergências, dos desafetos da vida
familiar e amorosa”. Ler por iniciativa é estar sempre apto para formar
opiniões críticas e chegar a avaliações pessoais, seja por divertimento ou por
algum objetivo específico.
Leio todos os dias, por prazer e
necessidade de ofício. A leitura faz parte da minha vida na mesma proporção e
importância da alimentação e das necessidades fisiológicas. Uso-a ao bel prazer
do intelecto, da criatividade e da felicidade. Os livros nos mostram mundos; a
leitura salva vidas. Para exercitar o cérebro com leituras diárias, seleciono
livros, cujas tramas e gêneros tenho maior predileção. Gosto dos escritos de
Olavo Bilac, Cláudio Manuel da Costa, Clarice Lispector, Paulo Mendes Campos,
Raquel de Queiróz, Moacyr Scliar, Gabriel Bicalho, Carlos Drummond de Andrade,
Walcyr Carrasco, Ana Maria Machado, Manuel Bandeira, Dalton Trevisan, Machado
de Assis, Flávia Lins e Silva, Julie Fogliano, Umberto Eco, Fernando Pessoa,
Saramago, Federico García Lorca, Pablo Neruda, Meg Cabot, Isabel Allende, e
outros autores, além de ler gêneros literários diversificados, como poesia,
contos e romances.
Ler é paixão desde a infância. É só
começar a ler, para constatar que de fato o livro, a leitura e a literatura são
os amigos mais fiéis e enriquecedores do mundo. Creiam e tenham fé na ação
benéfica da leitura, prezados leitores, pois além de nos tirar do obscurantismo
intelectual, nos disponibiliza uma série de personagens e tensões, para
vivenciarmos e experimentarmos outras vidas, outros mundos, outras culturas.
Não importa o motivo, a escolha, as predileções, o que importa é ler, ler com
prazer, até que o último fio de lucidez e sopro de vida se apague.