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CRÔNICA

O ano, enfim começa!

Confira a crônica de Andreia Donadon Leal, mestre em Literatura pela UFV

Publicado em 27/02/2020 às 22:02

Podemos dizer que o ano começou. Depois do carnaval o corpo, ainda que aos trancos e barrancos, tem que chegar ao lugar. Tomar prumo e jeito. A festa acabou. A farra permitida findou. A brincadeira ganha ritmo mais discreto. Os gritos são esparsos e mais personalizados. A paquera solta acabou. Os pulos acabaram. A fantasia é guardada no armário ou doada... Para os foliões que ficaram fora da cidade, a hora é de guardar a roupa na mala. Retornar para casa, triste ou feliz com os resultados do festejo.


E agora, será que é hora de colocar os projetos nos trilhos? Foco nos estudos? Pequenas mudanças ou grandes nos planejamentos pessoais e profissionais? Um bate-papo mais sério com o companheiro, amigo, ou família para os próximos meses? Acertos no trabalho? Procurar emprego para quem ainda não encontrou? Fazer as pazes com algum desafeto? Lavar a roupa suja? Tirar a máscara? Arrumar a casa? Tirar a poeira, serpentinas e brilhos espalhados nos móveis? Será que é hora de colocar a cabeça no lugar, ou dá para prolongar o carnaval até o mês de março? Livre arbítrio, ex-folião.


O momento agora é para reflexão, oração, comedimento, jejum? Pelo calendário religioso, a quaresma chegou. Os crentes seguem as tradições religiosas. Os descrentes convivem com o período de oração, ou o desprezam. O que me encanta e comove no despontar da quaresma é o compasso afinado da natureza. Certeiro, firme e deslumbrante, sem falhas, o balé traz maravilhosas árvores com flores-de-quaresma ou quaresmeiras roxas, ornamentando estradas, avenidas, praças, parques ou ruas.


O cenário urbano se harmoniza com a beleza exótica das árvores que encantam com sua exuberante floração. E não é somente estando em flor que a quaresmeira é ornamental. Sua copa de cor verde escura com formato arredondado continua atraindo olhares por seu porte sempre elegante e altivo. Com altivez e elegância, mais exuberante ou mais simples, ela continua firme e forte, presente em todas as estações do ano.


O carnaval, a quaresma, etc. nos mostram, talvez não tão escancaradamente, que tudo na vida tem seu período certo de cultivo, com sua tradição milenar ou não, mas durabilidade marcada e acertada para começar e findar. O carnaval acabou, mas a vida continua, em passo mais leve, acertado, focado; e nós como os verdadeiros protagonistas do caminho. Que tal ser como quaresmeira, mesmo não estando explodindo em flores, ser sempre ornamental na simplicidade diária dos dias do ano, com nossa beleza natural, independente do clima ou período em que estivermos.

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