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Carnaval

O Carnaval como matéria de cultura, memória e educação

Equipe da Casa do Professor Presidente Pedro Aleixo em atividade inaugural, neste mês de Fevereiro do corrente ano de 2020.

Publicado em 25/02/2020 às 05:18

Escola Municipal Cônego Paulo Dilacio (Foto: Margarida Novais)

Escola Municipal Cônego Paulo Dilacio (Foto: Margarida Novais)

"Eu sou o samba

A voz do morro sou eu mesmo sim senhor

Quero mostrar ao mundo que tenho valor

Eu sou o rei dos terreiros...” (Zé Kéti)

 

Tradições de Outros Carnavais: Mariana em diálogo com o mundo foi a Ação educativa levada a efeito pela Equipe da Casa do Professor Presidente Pedro Aleixo em atividade inaugural, neste mês de Fevereiro do corrente ano de 2020. A ação se propôs, como enunciou o título, um diálogo e um comparativo com o mundo, mas um propósito de compreender a tradição, e não reproduzi-la ou condená-la de forma acrítica e desinformada. Enxergando no fenômeno carnavalesco uma multiplicidade de elementos históricos, artísticos e culturais de grande valor e reconhecimento enquanto patrimônio, a Casa do Professor organizou uma força tarefa que envolveu um trabalho de recuperação de memórias dos moradores da Cidade com destacada liderança e/ou engajamento nas agremiações do samba e nas atividades do Carnaval local. Ao mesmo tempo, cientes do alcance cosmopolita do fenômeno, a Equipe técnica organizou uma busca paralela em outras instituições e plataformas de pesquisa, para efeito comparativo, deslindando, não apenas os aspectos comuns às tradições do Carnaval e às sociabilidades que ele propicia, como as ocasiões nele criadas para o exercício da crítica e da sátira, um espaço de reflexão irreverente sobre a realidade, não de alienação, como muitas vezes se lhe atribui.

Como constataram, este exercício não é de agora: remonta ao início da urbanização em Minas Gerais, com registros sobre batuques ocorrendo nas casas mais nobres. Veja-se, por exemplo, os escritos do famoso ouvidor inconfidente, Tomás Antônio Gonzaga, que, em suas famosas Cartas Chilenas, afirmou o costume de se batucar entre os nobres:

"Tu já, tu já batucas, escondido

Debaixo dos teus tetos, com a moça

Que furtou ao senhor o teu Ribério!

Tu também já batucas sobre a sala

da formosa comadre, quando o pede

A borracha função do santo Entrudo

Ah! que isto, sendo pouco é muito, e muito!

Que os exemplos dos chefes logo correm,

E correm muito mais, quando fomentam

Aqueles vícios a que os gênios puxam.

(,,,)

O sucesso lhe conta desta sorte:

'Fizemos esta noite um tal batuque!'

(...)"

(Cartas chilenas: 2007)

De fato, estudos apontam que a tradição de batucar já era forte no momento da entrada solene do primeiro bispo de Minas Gerais Dom Frei Manoel da Cruz. Os relatos coevos falam de um numeroso grupo de escravos que, provindos de localidades distantes, levariam ao Palácio feixes de lenha. Entraram na cidade divididos em duas alas, carregando bandeira e tambores, cantando à sua moda. (SANTOS: 2007, p 151) o bispo lhes mandara distribuir, como brinde, verônicas –imagens de santos para levarem de presente em devoção.(SANTOS, 2009).

 

Cosmopolita, o Carnaval possui uma História que carrega esquemas de apropriação e circularidades culturais desde a Antiguidade. História, cultura, mídia, economia e arte. Fenômeno multifacetado, o Carnaval permite leituras diversas e todas devem ser consideradas e analisadas pela Educação. A ação educativa promovida pela Casa do Professor sobre o Carnaval correspondeu aos objetivos de aprofundar a compreensão enquanto fenômeno múltiplo: midiático, cultural, histórico-antropológico e econômico. o Carnaval brasileiro mobiliza e arrasta multidões, se consolidando, na História, e, sobretudo, à força de tradição – melhor dizendo, de tradições múltiplas - como a maior festa popular do Brasil. Assim, deve ser analisada sob amplos e variados aspectos. Fenômeno de massas, produz ampla mobilização social e artística, vez que concentra uma multiplicidade de talentos populares e eruditos para a produção e avaliação competitiva artística, visual, cênica, musical, rítmica e plástica de suas alegorias e manifestações. Burlesca por excelência, essa festa popular estimula a inteligência e a reflexão sobre a realidade cotidiana, lançando mão de códigos, símbolos, quebras de protocolos, sátiras e muita irreverência nas letras e coreografias.

 

Conscientes e atentos para esse manancial de possibilidades, a Equipe da Casa do Professor Presidente Pedro Aleixo realizou um esforço coletivo de recuperação de memórias dos Carnavais junto à comunidade e representantes associativos de Mariana. Ouviu e gravou depoimentos, levantou fotografias e representações de época, manuscritos, poemas e afins. A Equipe pesquisou, estudou e discutiu muito e põe todo esse material, em síntese, à disposição das redes de ensino de duas formas:

- Ação Educativa Tradições de Outros Carnavais - Mariana em diálogo com o mundo, explorando aspectos de tradição e cosmopolitismo dos Carnavais de hoje e outrora, daqui e de alhures. A Fan Page da Casa do Professor no facebook foi alimentada com registros de carnavais de Cuiabá, Mato Grosso, São Paulo, Rio de Janeiro e Mariana. A ação educativa foi oferecida para ocorrer nas dependências da Casa do Professor ou se deslocando às escolas, e a síntese do material pesquisado foi oferecida como apoio didático, disponibilizada a todas as redes de ensino.

 

Para subsidiar a ação, bases de dados de pesquisa como os Acervos do Arquivo Público do Estado de São Paulo e da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro foram consultadas. Periódicos e trabalhos acadêmicos foram lidos e a prateleira de Educação Patrimonial da Biblioteca trouxe subsídios à ação educativa que procurou não encerrar Mariana entre as suas montanhas, mas trazer o olhar comparativo, e a interpretação erudita aliada à popular. No trabalho de recuperação de memórias, foram ouvidas lideranças como Cabo Wanderlei Lúcio, Presidente da popularíssima Banda dos Farrapos, um dos blocos caricatos mais antigos de Mariana; representantes das Escolas de Samba mais tradicionais, Efigênia, da Escola de Samba Unidos de Mariana e Ephigenia, da Escola de Samba Vila do Carmo, representantes do Zé Pereira e da Escola de Samba Morro da Saudade, em Passagem de Mariana.

RESULTADO: SUCESSO E SINTONIA. A ação conquistou a todos que com ela se envolveram, e alcancou parceiros de peso e renome. Obteve prestígio entre a talentosa Equipe gestora da Educação em Tempo Integral, da Secretaria Municipal de Educação, e vários monitores participaram da ação e solicitaram o material didático. O Clube Osquindô forneceu material de apoio que produziram sobre a atuante Escola de samba Morro da Saudade. A talentosa marianense Sônia Chaves, além de conceder entrevistas e memórias sobre organizações e líderes dos movimentos e escolas de samba em Mariana, abriu seu acervo pessoa de fotografias. Estas imagens foram escaneadas pela Equipe e fazem parte de galerias de imagens carnavalescas abertas ao público no saguão da Casa do Professor Presidente Pedro Aleixo, à Rua Direita, 93, Centro, Mariana.

 

 ANEXO

Equipe da Casa do Professor Presidente Pedro Aleixo

SETOR EDUCATIVO E DE ACERVOS:

Camila Duarte Mesquita (Pedagogia)

Elenice Calisto (História) 

Margarida Maria Novais Coelho (Suporte escolar)

João Bosco Maciel (Teatro)

Fernando Antônio Maricato (Conservação e Acervos)

Gervaci Matos de Carvalho (Psicoemocional)

Rita do Carmo Oliveira (Administrativo)

Ana Luisa Gabriel (Manutenção)

Karolina Mariane da Silva (Manutenção)

Michelle Maia Pimenta (Manutenção)

Patrícia Ferreira dos Santos Silveira (Coordenação)

Secretaria Municipal de Educação

Secretária Aline Aparecida de Oliveira

Duarte Eustáquio Gonçalves Júnior

Prefeito Municipal

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