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CRÔNICA

Ser ou não ser escritor

Andreia Donadon Leal é Mestre em Literatura pela UFV

Publicado em 26/07/2019 às 07:41
Atualizado em

Chega um momento na vida de um escritor em que ele passa por incertezas desconfortantes: ser escritor por simplesmente ser, ou ser escritor por amor, fingindo que pouco importa ser lido, pouco lido ou nem lido...

Publicar texto, mesmo que num espaço reduzido em página de jornal, importa muito, para ele. Quem sabe um dia, seus textos chegam a revistas e a livros. Hoje não é mais necessário aval ou “martelo” de grandes editores para publicar ou divulgar textos de autores emergentes. Há opções sedutoras para o escritor amador ou experiente, em sites, blogs e em editoras, que publicam livros em pequenas tiragens por prestações a perder de “vista”.

A obra editada ficará pronta em pouquíssimos dias; o autor, feliz da vida com a concretização de seu sonho, vê seu livro no papel ou no ciberespaço. O que vale é ser feliz; viver para ser feliz, essencialidade do escritor que deseja, compulsivamente, ver sua obra editada ou impressa. Se serão lidos, pouco lidos ou nem lidos, talvez seja pensamento ulterior ou nem chega a ser, o projeto do escritor. Mas, certamente, baterão ao longo do trajeto (para aqueles que não se esmorecerem), incertezas colossais; não apenas para os amadores e sem prestígio mercadológico, mas também para os experientes e profissionais que têm espaço para publicar suas elucubrações e que não estejam recebendo retorno de leitores, nem um elogio para servir de incentivo à continuação.

Novamente, as perguntas: sou escritor porque preciso ser; está em meu DNA, ou é vício indestrutível, querer sê-lo? Ser ou não ser, continuar ou não continuar sendo ou fingindo ser, são interrogativas desde a tragédia shakespeariana. Perguntas “trágicas” ao longo da vida de um autor, incertezas que vão e voltam; crises de ser ou não ser lido; prosseguir ocupando laudas de jornais, livros, revistas, blogs, sites, para deixar que suas impressões literárias continuem maculando papel ou tela de plasma, ou que sua imortalidade permaneça através de linhas impressas em folhas concretas ou janelas virtuais, eis as questões.

Alguém, algum dia, notará a existência de publicações e que nelas há a alma de um escritor. Basta isso, pois consagração não é apenas sucesso editorial, e o escritor para existir, basta escrever. Quem elege os imortais não são as academias e nem as universidades, mas o leitor, crítico arguto e autoridade mais importante de todos os tempos. Consagração? Isso é prerrogativa do tempo, e do tempo futuro.


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