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CRÔNICA

Dia Nacional do Livro

Andreia Donadon Leal (Mestre em Literatura pela UFV)

Publicado em 28/10/2019 às 21:19

O futuro é tão incerto quanto o transcurso da vida. Entretanto, alguns planejamentos são cumpridos com sucesso; outros, nem atingem os primeiros objetivos. Não temos o controle sobre todas as coisas da vida. Não sei do futuro, pois vivo “o e no” presente, compreendendo que viver é ter relações salutares com família e pessoas que fazem parte do nosso círculo de amizade. É necessário, também, esplêndidos momentos de solidão, estar bem consigo. Não há prazer maior de estar só com a leitura. Os benefícios são defendidos em artigos, revistas especializadas e em depoimentos. O ato efetivo de ler nos leva a outros mundos, colhidos da realidade circundante, para serem recriados artisticamente pelo autor e leitor. Não tenho pretensão de ser “a disseminadora” dos inúmeros benefícios proporcionados pela leitura, para uma vida intelectual e emocional do ser humano, apenas mais uma defensora, em relação a políticas de incentivo à leitura, ao livro e à literatura, tão necessárias em nosso país. Outro ponto a ser frisado com insistência é que as Secretarias de Cultura deem mais atenção à literatura, à leitura e ao livro, proporcionando e planejando atividades específicas em seus calendários culturais. Atualmente percebo certo desinteresse em algumas gestões, no planejamento de atividades e eventos relacionados a práticas de leitura e encontro com diversos autores da região, sem levar em conta relacionamentos políticos.  

O que seria da música, do teatro, do cinema, da arte, se não fossem os textos? Caos, pois o homem, desde seu surgimento, necessita da linguagem para se comunicar. A leitura é imprescindível numa sociedade que se define culta. É para isso que existem setores culturais, para formar Cidadãos Cultos. E o Ministério? EXTINTO!  

Os benefícios da leitura são imensuráveis para o aprimoramento das ideias; de sua natureza emancipatória, que arranca o indivíduo da depressão, da falta de conhecimentos e de experiências, ampliando suas perspectivas e alargando seus horizontes. Ler leva o destinatário ao encontro com o autor, com a obra, com os personagens introjetados e suas tensões vividas no transcurso da estória. Não chegaremos e nem daremos conta de ler todos os livros, mas ler é o início do caminho para o conhecimento. 

Estes são alguns benefícios proporcionados pela prática contínua da leitura. Mas sabemos que toda a população (sem exclusão) não tem acesso aos livros; aqui não desprezamos a importância dos pontos de leitura criados e incrementados nos estados brasileiros, mas na implantação de acervo literário em casas que não têm livros; em lugares longínquos das cidades, dos centros culturais, como aldeias, vilas e áreas rurais, onde a escassez começa pela falta de estrutura básica, como saúde, alimentação e escolarização. 

Literatura é o centro da cultura, pelo menos deveria ser, mas infelizmente, esse não é o pensamento da maioria das Secretarias de Cultura. O que é centralidade cultural para eles são shows, festas populares, cinemas, teatros, etc. (essas modalidades existem por causa da Literatura) Nada contra os segmentos apontados, não tiro o mérito e reconheço a importância da existência deles para a cultura, mas critico os altos investimentos destinados à realização de shows, de cinemas, de novelas, etc., comparando-se às ínfimas verbas destinadas ao livro, à literatura e às atividades de incentivo à leitura!  

Se nós, escritores, continuarmos a aceitar a segregação de investimentos para determinadas modalidades culturais, seremos vencidos e quiçá abandonados nas prateleiras das bibliotecas públicas, comunitárias ou nas estantes de casa. Ou quem sabe, colocarão fogo na maioria das bibliotecas? Ou, traçando um cenário mais apocalíptico: livros virarão obras de museus, ficando expostos apenas para contemplação, pois leitor será subversivo, anárquico e preso, se ousar “folhear” ou abrir um livro...  

Deixemos o pesadelo de lado para cobrar das autoridades mais investimentos e atividades para a leitura. Que todos tenham acesso ao livro sem distinção. Não custa nada sonhar. Dia 29 é data a ser comemorada. Foi nesse dia que D. João VI trouxe para o Brasil milhares de livros da Real Biblioteca Portuguesa, formando o princípio da Biblioteca Nacional do Brasil.  

O livro é fonte inesgotável de conhecimento, pois transporta os leitores para lugares inimagináveis, além de alimentar a cultura, a criatividade, a afetividade, o vocabulário e a informação...  

 Que a leitura e o livro sejam vício, o maior vício de todos os tempos. É sonho, mas quem não vive com sonhos (e não de sonhos) fenece de amargura.

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