Portal da Cidade Mariana

Crônica

Repertório variado

Andreia Donadon-Leal - Mestre em Literatura pela UFV

Publicado em 25/01/2019 às 06:17

(Foto: Google Imagens)

Ando desiludida com os políticos. Penso nisto ao caminhar pelo jardim da cidade de Mariana, a Primaz, que está repleto de jovens, adultos e crianças, aproveitando o final de semana. Crianças correm afobadas, adultos vigiam. Caixas de som ecoam funk no coreto. Um grupo de capoeira dança ao som do berimbau um pouco adiante. Viva a diversidade! Caminho em direção à Casa de Cultura de Mariana para ouvir o Grupo Musical Uns e Outros. Eles sim tocam as melhores canções desta e de outras épocas. O domingo será recheado de repertório variado pelos músicos experientes, que se prepararam com galhardia para a apresentação musical. Começam no horário. Terminam no horário. São ciosos. Volto meu pensamento para a política brasileira. Começou mal. Não há nada para relatar de novo, apesar de tudo novo. Político graúdo na cadeia, mas numa prisão diferenciada; bônus pelo cargo que ocupou no passado? Todos os ex-políticos têm este privilégio ou é apenas cena de câmeras de televisão? Alguém tem que pagar o pato, não é mesmo? Acredito que nem todos que estão na cela têm este privilégio. Camarão, carne de primeira, videoteca, passeios pelo pátio, visitas a qualquer hora do dia... Estou decepcionada, também, com os políticos que só pensam neles e na carreira, como se política fosse profissão. Eu e milhões de brasileiros estamos mais do que decepcionados. Estávamos esperançosos por mudanças, mas a descrença bateu a nossa porta.  É filho de graúdo escandalizando com inúmeros depósitos. É eleito dando desculpas esfarrapadas ou com sorriso amarelo ou fingindo que não viu o eleitor na rua, após serem eleitos. É eleito com pinta de marginal. É eleito com processo na justiça. É eleito que se acha acima da justiça. É eleito com escândalos saltando aos olhos do povo. É eleito que não sabe pronunciar o português corretamente. É eleito que discursa minguado feijão com arroz em evento internacional. É eleito com pinta de mito. É eleito que sorri a torto e a direito para as câmeras. É eleito que prometeu mundos e fundos e agora sai pelos fundos. É eleito que não tem vergonha de mentir. É eleito se preparando para o show, mas dando parco discursinho ideológico contra o discurso ideológico. É eleito se maquiando. É eleito se maquiavelando. É eleito decorando a cartilha do bom mocinho. É eleito fazendo cara de santo. É eleito dando primazia do discurso de posse para dama de companhia. É eleito falando em futuro (para quem não tem nem presente?). É eleito virando manchete e envergonhando o país. É eleito desaparecendo de eventos sociais. E assim vamos, caminhando sozinhos, nos livrando, ao certo, das malfeitorias da saúde, da educação, da segurança pública, etc. Não sei que Brasil eu queria construir ou que eles almejam desconstruir. Talvez um Brasil que não tivesse escândalos. Talvez um Brasil que não tivesse dinheiro de empresas para apoiar campanhas políticas. Talvez um Brasil que não precisasse se arrepender com menos de um mês de governo. Talvez um Brasil que não se sujeitasse a tanta lambada e surrupiada. Talvez um Brasil mais sério, mais igualitário, mais libertador. Um Brasil que se erguesse, qual fênix, para não cair mais. Talvez um Brasil que não tolerasse desmandos e escândalos. Nós que lutamos com perseverança e honestidade para manutenção de nossas vidas, trabalhando, pagando impostos, somos obrigados a pernoitar nas filas dos postos de saúde, sem ter hora para retornar para casa. Trabalhamos, pagamos impostos, aguardamos o carnê do filho que está em escola particular, porque a pública está sucateada. Trabalhamos, pagamos impostos e não vemos o dinheiro da arrecadação revertido para as ações essenciais dos governos. Ando mesmo desiludida com os políticos, sem exceções. Estou sentada na porta da Casa de Cultura de Mariana, recheada de pessoas que apreciam uma bela apresentação musical. Crianças também escutam o grupo de músicos. Eu queria um Brasil assim, recheado das melhores canções desta e de outras épocas. Eu queria um Brasil impregnado de bons políticos. Eu queria um Brasil inundado de benfeitorias. Eu queria um Brasil onde a Educação e a Saúde fossem referência para o mundo. Eu queria um Brasil multicolorido. Eu queria um Brasil em que crianças, jovens e adultos tivessem oportunidades, um presente profícuo e futuro promissor. Eu queria um Brasil que tivesse a energia e a vivacidade do Grupo Musical Uns e Outros. Eles sim tocam as melhores canções desta e de outras épocas. Eu queria que todos os dias o Brasil fosse recheado de repertório variado de boas notícias, e que os políticos fossem cidadãos do bem, que planejam e constroem com galhardia o presente e o futuro de todos os brasileiros, e que sejam, sobretudo, ciosos com o povo.

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