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Crônica

Mulheres Criativas

Andreia Donadon Leal – Mestre em Literatura pela UFV

Publicado em 07/03/2019 às 00:14

(Foto: Google Imagens)

Gênesis cita a criação da mulher por Deus. Nome: Eva. "Não é bom que o homem esteja só", segundo passagem bíblica. Pela primeira vez, encontramos a citação de outro ser humano na vida do homem. Sem companhia feminina e parceira para a reprodução, o homem não poderia realizar sua humanidade, dar continuidade à existência e à vida. Dessa necessidade surge a criação da mulher que será companheira e esposa de Adão.

Durante milênios a mulher foi predestinada e vista como objeto a ser moldado para obedecer ao que era pregado pelas ordens religiosas: satisfazer as expectativas dos pais e posteriormente do marido, que era escolhido por sua família. As relações entre homens e mulheres foram marcadas pela dominação do masculino sobre o feminino e, no que se refere ao acesso à educação, à possibilidade de a mulher se alfabetizar, o mesmo acontecia. Vontade própria e demonstração real de sentimentos eram aspectos a serem ocultados pelo universo feminino. Na educação, eram ensinadas, desde criança, para as funções de esposa, mãe e dona-de-casa, enquanto os meninos, para ser o chefe da casa e da família. O comportamento feminino começa a ser modificado após a década de 1950: moças passam a espelhar suas atitudes nas que eram apresentadas pelas telas de cinema. Outro fator foi a propagação da literatura no país. Folhetins, jornais e revistas trouxeram desconforto aos lares, pois tudo o que era lido pelas moças precisava ser, antes, policiado para que não subvertesse o comportamento até então idealizado. Quando examinamos a história da intelectualidade brasileira, especialmente a que compreende o período final do século XIX e início do XX, percebe-se que, tradicionalmente, ela se estruturou a partir do cânone de textos de autoria masculina. São do século XIX os primeiros textos escritos por mulheres brasileiras que têm alguma divulgação entre o público letrado. A literatura feminina dos anos 1920 não teve o mesmo vigor e  divulgação que as artes plásticas produzidas pelas mulheres neste daquele período. Anita Malfatti, em 1917, com seus desenhos e óleos de cunho expressionista e cubista, inaugurava o modernismo, chocando a opinião pública de concepção mais conservadora, desagradando a gregos e a troianos; com ela já estava feita a primeira revolução nas partes plásticas brasileiras.

Outra mulher que merece destaque é Tarsila do Amaral, que mostrava sua adesão às ideias modernistas defendidas pelo escritor Oswald de Andrade em um texto de 1928, o Manifesto Antropófago. Os trabalhos de Tarsila confluem a distorção dos elementos plásticos, resultado de um confronto entre sua aprendizagem cubista no período em que estudou na França e o seu fascínio pelas formas e cores da cultura de tipos locais como o negro, o caipira e o índio brasileiros.

Cecília Meireles marcou a história de nossa poesia no século XX, nos versos líricos de traços místicos, aos fatos e à História que se revela no Romanceiro da Inconfidência, e sua dedicação ao público infantil nos clássicos ‘Ou isto ou Aquilo’, de 1964.

Rachel de Queiróz, em 1977, passou a integrar a Academia Brasileira de Letras, rompendo barreiras naquele seleto reduto masculino. Autora de vasta obra literária fez por merecer esse lugar notório na academia, por ser um expoente da literatura universal.

E Beatriz Brandão. Nascida em 29 de julho de 1779, em Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto, Minas Gerais, Beatriz era prima primeira de Maria Dorotéia Joaquina de Seixas (conhecida por Marília de Dirceu). Foi poetisa, compositora, musicista, diretora de escola, tradutora de grande número de poesias italianas e francesas, e artista escolhida - por ser uma intelectual de destaque na sociedade de então - para homenagear D. Pedro, em 1820, cantando para ele um hino de sua autoria.

Aos vinte anos fundou a primeira escola para meninas de Antônio Dias; criou um coral na igreja matriz de Nossa Senhora do Pilar; foi uma das três primeiras mestras da instrução pública de Minas Gerais.  Casou-se com o Alferes Vicente Baptista de Alvarenga, de quem se divorciou, em 1839, pelo Juízo Eclesiástico, por ser vítima de sevícias praticadas por seu marido. Após o término oficial de seu casamento, partiu, aos sessenta anos de idade, para o Rio de Janeiro, onde reconstruiu sua vida, trabalhando como professora e publicando suas poesias em vários jornais da cidade.  Algumas das poesias da escritora foram publicadas, em 1831, no Parnaso Brasileiro do Cônego Januário (o que demonstra que, ainda em Vila Rica, Beatriz enviava seus poemas para o Rio de Janeiro) e, em 1856, saiu a publicação de Cantos da mocidade, primeiro livro da autora, que colaborou ainda nos jornais Marmota Fluminense (de 1852 a 1856) e O Guanabara. Em 1867, um ano antes de sua morte, Beatriz teve seu nome reconhecido no verbete a ela dedicado por Inocêncio Francisco Silva em seu Diccionario Bibliographico Portuguez.

Beatriz Brandão faleceu em 05 de fevereiro de 1868, com 89 anos, no Rio de Janeiro; deixando publicadas cerca de doze obras; é patrona da cadeira n° 38 da Academia Mineira de Letras, e segundo alguns dicionários, deixou inéditos diversos poemas, hinos e composições musicais. A poetisa chegou ao século XXI, de acordo com muitos autores, como a primeira compositora brasileira e uma das primeiras escritoras da nossa nação. 

A lista de nomes de mulheres que revolucionaram a literatura e as artes não acaba por aqui. Há inúmeras outras criativas que enriqueceram, enriquecem e enriquecerão a cultura, a educação, a literatura, as ciências e outros campos do saber.  E não há nenhuma diferença entre as almas feminina e masculina. Talvez a única seja a busca constante pelo aprimoramento da cultura, da educação, do exercício da cidadania; e do desejo de deixar legado significativo para as gerações vindouras.

Itabira fez brotar em mim, o desejo de ser escritora, leitora e artista. Sonho que se concretizaria, com trabalho, foco, amor, abnegação, estudo, e um time de escritores que vive na cidade de Mariana, que me incentivaram a continuar, a continuar, a continuar A SER MULHER DAS LETRAS...

nasci

meio

choro

meio

riso

desconfio

 ==

stop!

uma

rosa

sangrou

o

amor

 

==

João

Teresa

Raimundo:

ninguém

amava

ninguém!

==

Itabira

nossa

como

dói

essa

saudade!

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