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CRÔNICA

Em Rede pela Vida

Criticar não é atacar, como muitos pensam, mas se colocar no lugar do outro. Só nobres de espírito dirão que quem criticou tem razão e vão tentar melhorar

Publicado em 06/06/2019 às 21:40

Bons dias! Nunca tirei chapéu para políticos que cometeram ou cometem os erros do Rei Luís... Covardia dar as costas para os necessitados, pois a humanidade e o amor ao próximo devem estar no topo da pirâmide de quaisquer governos. Pura balela, não é mesmo? Não vivemos num mundo ideal, mas real. E a realidade nos choca, amedronta e entristece.

O governante prudente, segundo Maquiavel, é aquele que tem o espírito de gestão em seu sangue. O governante prudente é o homem que sabe seguir bons caminhos percorridos por gestores anteriores, dando prosseguimento a programas, avaliando falhas, aprimorando metodologias e objetivos, com propósito de enriquecer as sendas conquistadas. Admiráveis administradores que não destroem projetos, cujo objetivo central é resolver problemas, prevenindo que estes retornem. Governantes eleitos não devem priorizar seu séquito. Governantes devem ter a ‘chave da cidade’ para todos, independentemente de partidos, grupos ou críticas. Criticar não é atacar, como muitos pensam, mas se colocar na posição dos outros. Mas só nobres de espírito dirão que quem criticou tem razão e vão tentar melhorar.

Exterminar programas de administrações anteriores por má vontade, ingenuidade ou pensamento egoísta de que ‘o povo que se exploda’, causa-me asco. Frutos de sabedoria aqui estão em baixa. A árvore está seca, precisando de água e adubo. Os carrascos estão à solta, fantasiados de bons garotos. Há que se questionar, criticar; cobrar ações eficazes. O silêncio e a bajulação equivalem a anuência.

Isso tudo, que parece algaravia ou antipatia minha, sendo lido por simpatizantes, é como a mão tecendo machadadas, fosse eu ligada a inverdades. Prezados leitores, sou adepta ao amor imensurável pelo próximo, pela educação, pela cultura, pela saúde, esta última focada no tratamento dos dependentes químicos. Dependência química é moléstia; gravíssima doença a ser combatida por uma mega equipe de profissionais de ponta, pela sociedade; por internações em clínicas especializadas. Quem tem casos na família sabe, com propriedade e larga experiência, que o tratamento domiciliar é ficção, a não ser que haja parentes psiquiatras e psicólogos em casa.

O estado não é eficiente quando o assunto é a liberalização da droga. A desinformação é gritante. O conceito de liberalização da droga tem que ser entendido como um projeto de Estado, no qual o Estado terá o absoluto controle dos usuários, com cadastros sérios e dosagens determinadas por profissionais da saúde. No entanto, o Brasil não tem condições políticas de discutir esse assunto com a seridade que merece, pois a desinformação (dos políticos, dos religiosos e da maioria da população) confunde política de liberalização/descriminalização de drogas com uso descontrolado e sem controle do Estado. Ora, uso descontrolado é o que acontece hoje no país – o tráfico é um poder paralelo que manda mais do que o poder legal do Estado. O poder público é tão ineficiente e irresponsável que deixa de tratar a grave questão do uso das drogas como questão de saúde pública e transfere a responsabilidade de tratamento a voluntários ou entidades religiosas.

A realidade é que projetos de políticas públicas de tratamento de usuários de drogas são desmantelados quando prefeitos demitem psiquiatras e psicólogos, porque não percebem que usuário de droga precisa de atenção de profissionais médicos da saúde mental.

No dia em que o Estado assumir que a repressão ao uso de drogas é projeto fracassado vai perceber que a responsabilidade de tratamento ao usuário começa pelo controle da dosagem terapêutica, num processo de desintoxicação, que vai acontecer lá na Unidade de Saúde Mental do Município. Imaginem se o Programa REDE PELA VIDA (exemplo de gestão pública estadual e nacional) retornasse com envolvimento de secretarias, como antes? Educação na prevenção; cultura e esporte com atividades esportivas e culturais; desenvolvimento trabalhando com a família e reinservação social; saúde com efetivo atendimento psiquiátrico, psicológico e internação. Mãos estendidas resgatando jovens e adultos: tráfico de drogas diminuído. Claro, para que isso aconteça, a produção e a distribuição da droga teria que ser exclusiva do Estado, como parte compulsória desse projeto de Estado de descriminalização e liberalização das drogas. Mas o assunto não está no topo da pirâmide... Faltam informações, e sobram preconceitos...

Justamente por desinformação e preconceito é que a liberalização da droga causa pânico nos políticos. Por causa das ‘cabeças’. Que o Estado não é eficiente, isso é fato. Que o município é ineficaz na prevenção ao uso e diminuição do tráfico de droga, ao exterminar o Programa Rede pela Vida, é notório.

Estou na estrada movimentada que liga Mariana a Belo Horizonte. Vejo ciclistas, árvores, flores margeando o asfalto, carros em alta ou baixa velocidade; um grave acidente. Volto a pensar nos dependentes químicos e em suas famílias. Penso no trabalho eficiente de várias igrejas que conseguem salvar pessoas da dependência química. Lembro-me da história do jogador Casa Grande, que conseguiu se libertar do mundo das drogas com inúmeras internações. Mas nem todos têm bala na agulha, para se internarem em clínicas de referência. Nem todos aceitam a internação. Nem todos querem se ver livres da droga. Posso falar com experiência, que tratamento em casa é balela, é pura ficção. Falo que não há número adequado de psiquiatras e psicólogos no município para tratarem dos usuários de drogas, dos depressivos ou de outros transtornos mentais. Falta medicação, antidepressivos, calmantes nos postos de saúde. Falo, com larga experiência, que tenho parente que não respondeu ao tratamento domiciliar. A família toda adoeceu.

Continuo trajeto pela estrada afora. Rádio ligado. Penso nos meus. Recordo-me do caos instalado no lar. Recordo-me de joias, louças, roupas, sapatos, dinheiro, panelas e outros utensílios desaparecendo. Lembro-me dos sumiços contínuos da figura doente. Lembro-me de tudo, perfeitamente: dos irmãos da igreja, dos espíritas, dos católicos, dos grupos de oração se unindo para dar força à família. Lembro-me dos amigos que sumiram. Lembro-me dos que surgiram em nome da irmandade, do afeto e em nome de Deus. Recordo-me da falta de programas, de psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais da saúde; e das medicações. Lembro-me das sete internações. Não desistimos. Mineiro é de ferro. Recordo-me dos longos quinze anos... O ex-usuário retorna ao lar, ao trabalho, ao lazer e ao seio familiar. Recordo-me dele testemunhando que voltou a se amar, a orar, a ajudar e amar o próximo. Ora, tudo isto, foi resultado da ação da Rede pela Vida, das igrejas, dos amigos, do trabalho em conjunto, em nome do AMOR ao outro.


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