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Crônica

Final de ciclo

Andreia Donadon Leal

Publicado em 14/11/2018 às 07:14

(Foto: Google Imagens)

Caminho pelas ruas de seixos rolados vagarosamente, tentando, sem sucesso, passar a perna no tempo. Santa ingenuidade teimar em segurar segundos e minutos. Continuo périplo solitariamente, me desviando (com meus tênis quase soltando a sola) de transeuntes que andam apressados, para seus compromissos inarredáveis. A vida é inadiável, mesmo. Mesmo? Até findar, sim. Visualizo pernas frenéticas; pessoas gritando, tossindo; carros que vão e voltam, apito de guarda; garoa, céu nublado, etc. Tudo isto é pulso da cidade. Lojas ainda exibem enfeites natalinos. Já?! Corro os olhos para ver outros estabelecimentos comerciais, todos com motivos de final de ano nas vitrines. É quase Natal? Pergunto-me atordoada querendo alimentar minha incredulidade pelo final de mais um ciclo.

É segunda quinzena de novembro, penúltimo mês do ano. Admito embasbacada, minha incredulidade pelas pernas ágeis, concisas e disparadas dos meses que passaram feito furacão. Projetos concluídos? Pergunto-me. Alguns foram com êxito, outros nem tanto ou nem chegaram a vingar. Constato que perdi amigos nesse vai e vem do tempo, não por desentendimentos percebidos, brigas, disputas, ou sei lá o que, mas por casos e acasos do destino (penso eu); por excesso de trabalhos; compromissos inadiáveis. Os defeitos, amigos, tento a todo tempo, minimizá-los, ou se possível, extirpá-los, mas ninguém é perfeito. Os amigos que perdi, quem sabe, retornem um dia, da mesma forma que foram sem avisos prévios, ou telefonemas dizendo: “vou guardar sua amizade no armário por algum tempo!”. Livre arbítrio; respeito decisões, aceito novos rumos, novos pensamentos, novos projetos dos amigos. Os que ficaram, firmes e fortes, guardo-os com carinho e afeição, valorizando os que ganhei.

Fito novamente a rua, esquecendo os amigos que perdi e os que ganhei no ano, para contemplar as luzes de natal nos postes, nas árvores; os enfeites montados nas praças, casas, lojas. Todos os recintos foram tomados por luzes para receberem o Natal. O penúltimo mês do ano não findou e nem virou sua página no calendário. Dezembro não deu as caras. E daí? Que mal há em começar a traçar planos, desde já, para o ano vindouro? Que mal há em traçar metas, feito as luzes de Natal que iluminam com antecedência o cenário urbano? Que mal há em antecipar, que é nada mais, nada menos, que mover-se ou deslocar-se para frente? ‘Pra frente é que se anda, diz o ditado popular’.

A vida é feita de ciclos e tradições, concluo atravessando a rua. A primavera em sua plenitude exibe flores  belas, fortificadas e multicoloridas. O verão já mostra desejo de chegar. A primavera vem e vai. Vem e vai novamente; as flores também. Um novo ciclo, que é velho e novo ciclo cíclico. E eu? Bem, planejo antecipar-me, movendo-me para frente, comprando tênis novos para continuar a bater pernas pelas ruas de seixos rolados, e abrir os braços para aconchegar os amigos que virão, e com mesma receptividade de outrora, aqueles que sumiram sem aviso prévio. E antecipo, a amizade verdadeira, independente do tempo, da distância, dos desencontros da vida, é iluminação natalina, no tempo certo, brilha!


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