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CRÔNICA

Janeiro Branco

Confira a crônica de Andreia Donadon Leal - Mestre em Literatura pela UFV

Publicado em 15/01/2020 às 22:01

Difícil ter saúde mental neste século de tantos compromissos, tarefas, notícias ruins, competições, fofocas, ambientes hostis, pessoas em processos de autoafirmação, mas é precípuo puxar os freios, para que nossa mente possa equilibrar-se.


Janeiro é mês da consciência sobre a Saúde Mental. Como está a saúde de minha mente? Tenho refletido: vai de altos e baixos. Às vezes no ritmo do estresse dominante; às vezes devagar, quase parando... O transcurso do tempo não é de “luzes, câmera e ação”.


Andamos por vales aterrados, morros escalpelados, sombrios e revolvidos, dolorosos e de lamentações. Recordo idas e vindas pra lá e pra cá. Não computei quilômetros nem mensurei lágrimas escorridas.


Nervosismo no ápice, estresse à flor da pele; depressão quase bateu à porta. Pausa para respirar, mirar o verde. Diz mãe que olhar o verde ajuda a restaurar os neurônios. Não foi ela a autora da frase, mas um neurologista de Itabira. Boto fé na terapia das cores, da música e dos livros.


Quando a droga só consegue suavizar os sintomas de certa patologia, quaisquer terapias são bem-vindas. Um especialista do cérebro me assegurou. A última função no cérebro que vai embora é a musicalidade.


Música é vida em plenitude. Acalmo estresse do trabalho com música. Paro para refletir, reorganizar metas. Uma folha em branco. O que fazer com cinco minutos de liberdade? Sair em busca de mim mesma? Minha folha em branco organizará idas e vindas. Vou partir desta reescrita.


De que forma lidei com situações de extremo estresse? Com mais estresse. De que forma atuei no campo das emoções? Com discursos de mágoa, julgamentos e exacerbação. De que forma me comportei diante de doenças na família? Às vezes no ápice do nervosismo, muitas vezes com o coração, sentimento de posse, proteção desmedida, desconfiança e insegurança. De que forma reagi às dores da alma? Às vezes chorando demais, às vezes segurando o choro, às vezes com uma coragem desconhecida.


Escrevo algumas linhas do meu comportamento emocional. Esqueço de mencionar a falta de empatia com determinadas pessoas. O que o coração pressente, gerando pré-conceitos, as ações e reações são frias e artificiais.


A desconfiança no outro é algo a ser trabalhado este ano. Preciso cuidar dos pensamentos, da mente, da saúde mental, para não entrar num colapso. Respiro fundo. Faço exercícios físicos. Comprei piscina de plástico. Água me tranquiliza.


Observo o verde. Vejo os carros passando, sem parar, na rodovia. Coração e curiosidade disparam com a sirene da ambulância que passa apressada. Quem estará lá dentro, agonizando? Poderia ser eu ou você, prezado leitor.


Podemos não estar naquele automóvel hoje; mas, amanhã, nada sei. Hoje não me possuo, o que me possui é o instante. O momento agora é de reflexão sobre mim, sobre você; sobre nossas emoções e reações diante das intemperanças na vida, no trabalho, no relacionamento com a família, com o companheiro, colega de ofício, vizinho, amigo e com quem nos incomoda demasiadamente.


O estresse é imputado a todos nós. Lidar com ele é saber procurar caminhos, conduções, alternativas ou tratamentos com especialistas, para o autoconhecimento e qualidade da saúde mental.


Eu, sem nenhum orgulho ou segredo a sete chaves, confesso para quem se interessar que cuido de minha saúde mental com psiquiatra e terapia. Sei de minhas emoções, idiossincrasias, nervosismos, problemas no trabalho, exaustão emocional... Não nasci com o chip da perfeição incrustado na alma, nem com todos os aparatos e armas, para suportar o vai e vem da vida.


Não vivo de plenas alegrias nem de plenas tristezas, nem de derrotas ou vitórias. Vivo meus quarenta e seis sob demanda, em constante evolução, aprendendo com as agruras, gestos miúdos, escabrosidades, alegrias, tristezas, dores, pequenos instantes de ações e reações sentimentais.


O que procuro preencher nesta folha branca é harmonia nas relações, educação das emoções, renovar, sobretudo, RE-NOVAR.


O som da sirene da ambulância some na distância. Que o doente seja prontamente atendido, assim desejo e espero. Oxalá, não seja nada incurável!


Fecho a porta. A noite se apresenta. O ar se refresca. Tenho fé nos planos, sentimentos e reações. Estou meio borocoxô, hoje.


Amanhã o sol ressurgirá. Ele foi ali, descansar. Sabe o sol de si mesmo. Vou repousar. Estou aprendendo a lidar comigo...

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