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Crônica

Presente de Natal

Andreia Donadon Leal - Mestre em Literatura pela UFV

Publicado em 14/12/2018 às 06:17

Deia Leal e sua sobrinha Laura

Talvez hoje não sobre tempo para me dedicar à arte da leitura. É mês de formatura. É mês de colher frutos. É mês de reconhecer méritos. É mês de cumprimentar aqueles que fizeram de tudo para chegarem à formatura. É mês de dezembro. Ele traz passeios longos pelas ruas apinhadas de gente. Congestionamento de pessoas nas calçadas; crianças de mãos dadas com suas mães, um olho nas vitrines, outro nos filhos. Vou caminhando com o peito estufado. Sim, hoje é dia de andar meio que pulando de felicidade. Olho atentamente para as vitrines enfeitadas com motivos natalinos. Umas brilham com suas luzes acesas, mesmo de dia. Talvez para chamar a atenção e atrair compradores. Mas não é necessário. A rua está apinhada de pessoas. As lojas têm clientes o suficiente para fazer girar a economia na cidade. Motivos sobram para comprar presentes ou lembranças, apesar de a coisa não estar para marés altas. A pechincha é negócio valoroso. Quem anda mais, procura mais e escolhe melhor pode até economizar uns trocados. Caminhei me desvencilhando de transeuntes e carros. É que hoje estou andando na calçada, mas por estar felicíssima saí da linha, e cheguei a caminhar pela rua mesmo, disputando espaço com carros. Hoje não tem motorista xingando, chamando atenção ou buzinando apressado. Acho que estou com sorte, mas tudo induz a sorte mesmo. Não chove. O sol surgiu majestoso no horizonte. As montanhas estão divinamente verdes e iluminadas. As igrejas surgem imponentes. Ruas limpas. Garis tiram ervas daninhas e mato das pedras. Um Papai Noel gigante enfeita a praça. É meio grande demais para meu gosto, mas crianças e adultos possam ao lado do gigante para tirarem fotos. Vejo postagens na rede social; crianças e marmanjos apreciam os dias que antecedem as festas natalinas. Também gosto. Época de união da família. Natal para mim é tempo de união, tempo de encontros marcantes, tempo de confraternização, tempo de agradecimento a Deus pelo ano velho e boas novas ao vindouro. Continuo périplo pelas calçadas de pedras. Torço ligeiramente o pé direito ao atravessar a rua. Nada que machuque ou prejudique meu caminhar. Confiro lojas. Confiro preços de mercadorias. Saio. Entro. Volto a caminhar. Vou ao banco. Tiro dinheiro para pagar lembranças necessárias. Espio outra vitrine. Entro. Não sou muito bem atendida. Talvez a atendente estivesse na TPM. Talvez estivesse ali sem nenhuma vontade de estar. Talvez tivesse algum problema de ordem maior. Mas isto não vinha ao caso. Ao me atender de forma fria e desinteressada, afungenta-me da loja rapidamente. Não deixei a expressão sisuda de a funcionária me influenciar; afinal, hoje é dia de andar de peito estufado, cabeça erguida. Motivos não faltam para caminhar com a expressão leve, com sorriso no rosto. Entrei em outro comércio. Fui atendida com toda atenção. A funcionária tirou, sem preguiça, quase todas as peças das prateleiras. Ofereceu-me água com sorriso no rosto. Solícita a meus desejos. Sentei-me na poltrona da loja, tomando água. Aguardei-a ir ao depósito para tirar jaquetas de frio. Apesar da estação quente, o desejo do felizardo era este. Finalmente encontrei o que desejava. Ponto para a funcionária, que não teve preguiça em procurar, por todos os cantos da loja, a jaqueta impermeável. Saí de lá com o dever de tarefa cumprida, com louvor. Mesmo sabendo que fazer compras de Natal, não é lá coisa para se gabar. Fazer compras de Natal é comum, previsto, certeiro. Para mim é mais do que lembranças, é um ato de amor, lembrança daqueles que estimo com toda graça e prazer. Sempre gostei de presentear. É um ato inato. De pais para filha. Tarefa cumprida, caminhei com as mãos cheias de pacotes. Eu tinha motivos para comemorar, ora! Andar com o peito estufado, apreciando os seixos rolados de Mariana. Cumprimentando pessoas que eu nem conhecia. Admirando o céu azulado com esparsas nuvens. Admirando o voo dos pássaros na praça. Admirando a fonte com luzes, mesmo apagadas. Admirando um casal sentado no banco. Admirando um adolescente conversando com outro, animadamente. Admirando rostos que não conhecia. Admirando tudo ao meu redor. Afinal é Natal! Afinal é diplomação de minha sobrinha Laura, a primeira médica da família.

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