A política tem, para muitos, uma dimensão que pode ser de difícil entendimento. Ouvimos ao longo deste processo de pandemia, muitas coisas que nos ofereceram questões e dilemas a serem debatidos e pensados. A escala dos problemas é enorme, vai do macro ao micro, com decisões difíceis e posições complicadas - especialmente para os gestores públicos.
Temos acompanhado o crescimento do debate “saúde e segurança versus economia", mas… será mesmo que existe um debate em questão? Porque os números, não são apenas números, são pessoas com suas histórias e subjetividades. Para além, há uma pergunta, a economia pode se dar ao luxo de perder milhares de vidas? De trabalhadores em idade ativa de contribuição? Porque já caiu por terra a ideia de que apenas os idosos vem morrendo. Não, não são apenas os idosos (e mesmo assim, eles não são importantes? Não merecem ser honrados?).
Eu gosto de pensar a política brasileira como uma casa velha que abriga objetos muito valiosos em seu interior e, com os telhados quebrados, enfrenta uma tempestade. Os gestores movem as telhas tentando proteger o que há de importante aqui e ali mas, no fim, não conseguem salvar muita coisa… tirando de um lugar pra colocar em outro, tirando de uma boca para alimentar a outra.
Testemunhamos alguns países abrirem mão dos interesses privados para salvar seu povo - estatizando hospitais que eram particulares, abonando os valores de luz e água, oferecendo sustento e providência para os que não poderiam trabalhar - mas isso não é algo simples, exige planejamento e abdicação, em diversos sentidos.
Em um cenário ideal, seria importante que todos pudéssemos ser amparados. Contudo, estamos vivendo uma situação que está longe disso.
Então, como lidar com o “xadrez” político em tempos de pandemia? Não há jeito certo, não existe resposta para essa pergunta, mas cada setor pode tentar fazer sua parte. Estamos vivendo um dia de cada vez e não existe um protocolo nacional a ser seguido.
Abre comércio, fecha comércio. Os gestores municipais tentando se unir aos estaduais que, por sua vez, agem cada um de acordo com seus respectivos ideais, visto que não há uma orientação específica vinda do âmbito federal.
Não há um cenário em que os gestores não serão os vilões, não há um cenário em que os comerciantes não serão vítimas… todos somos. Mas há um xadrez político que envolve interesses, envolve debates e pede reflexão, calma.
Precisamos respirar por um momento, tentar não “apontar dedos” e distribuir culpas. Essa situação pede união e paciência, para que, juntos, possamos persistir e fazer valer o misterioso conceito de “resiliência”.
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[Este texto foi produzido pela jornalista Júlia Souza, não sendo de redação do Portal da Cidade e, deste modo, pode não representar as opiniões da empresa.]
